Mudar o mundo através da arte. Esse é o sonho de milhares de artistas ao redor da Terra, e não é diferente com o cineasta brasileiro Fernando Haro – mais conhecido como Nando. Ele ingressou no mundo da arte muito jovem, através do teatro. Aos 16 anos, já entrou para a TV Cultura para participar da premiada série Pedro&Bianca, dirigida por ninguém menos que Cao Hamburger, criador e diretor de Castelo Rá-Tim-Bum.
Foram 5 anos trabalhando na série e fazendo diversos outros trabalhos como ator, mas, nesse meio tempo, Nando percebeu que sua vocação era outra. Ele enxergava coisas que outras pessoas não viam, nem mesmo seus diretores. Então ele percebeu que tinha um olhar apurado para estar por trás das câmeras e decidiu trocar de lugar. Desde 2017, é com direção cinematográfica, direção criativa e com a parte executiva que ele trabalha.
Mas chegar onde está hoje não foi um trabalho fácil. Nando relembra um dos momentos mais marcantes na sua vida. Ele fez faculdade de teatro, porque não tinha condições de bancar uma faculdade de cinema – mesmo sendo um garoto que aos 16 anos já tinha um salário de R$ 4 mil. Mas o que o marcou mesmo foi encontrar seu pai chorando e ao questionar o motivo escutar que era porque ele via o talento, a vocação e a dedicação do filho, mas que apesar de querer ajudar, ele não conseguia, porque era algo muito distante para ele. “Eu falei ali, se houvesse qualquer barreira para eu me tornar um grande diretor, naquele momento eu quebrei todas. Porque ali eu já sabia que era o melhor, porque eu tinha a aprovação do meu pai“, conta.
Aos 27 anos, Nando já está num patamar da carreira que a maioria dos diretos chega apenas aos 35, 40 anos. Ele tem uma carreira internacional, já ganhou diversos, dirigiu mais de 20 filmes, séries, curtas e até um reality show no Egito.
Todas as probabilidades pareciam estar contra mim, mas tudo estava a meu favor. Eu não tive as condições, mas tive toda a força e a potência para chegar nesse momento
Nando Haro
Apesar de saber que ainda tem um longo caminho para percorrer em sua vida profissional, Nando sabe o que o diferenciou e o fez chegar mais rápido ao sucesso: o planejamento. Ele explica que quem está dentro do mundo artístico, não está ali porque pensa em dinheiro e só começa a se preocupar com isso no final da carreira. “Como você vai se planejar dentro da arte, sendo que qualquer criança que tenta ser diferente, mais criativa, já é colocada como ‘fora do lugar’? Dizem que ser artista é um erro, que não é profissão. Isso vai bloqueando ele, vai fazendo ele se tornar uma resistência. Então se você for falar sobre dinheiro, ele vai ter repulsa. São poucos os artistas que dão certo em planejamento e estrutura“, explica Nando.
Hoje, ele também trabalha para mudar essa mentalidade. Desde jovem Nando entendeu que precisava ter uma relação amigável com o dinheiro, que precisava de um planejamento para a sua carreira. “Eu comecei a ter esse rompimento da realidade e entender eu sou um artista, mas sou uma artista rico criativo e rico financeiramente. Só que pra chegar nesse lugar não é fácil. De 45 pessoas que fizeram teatro comigo, só eu e mais 1 trabalham com arte hoje. Porque os outros viram que não tendo uma base financeira, uma estrutura sólida em que você pode se planejar financeiramente, você não vai a lugar nenhum. Nós artistas construímos algo, mas chega uma hora que a gente precisa parar de criar, para executar. E essa parte tem a ver com dinheiro. Com a construção solida de uma carreira, de um planejamento“, analisa.
Nando conta que a chave virou no momento em que decidiu que queria ser diretor e percebeu que as câmeras de um set custam a partir de R$50 mil reais. E como ele não tinha as condições de bancar uma faculdade de cinema e havia decidido aprender a ser um diretor na prática, ele precisava investir nesses equipamentos. “Eu pensei: ou eu tenho 50 mil reais ou eu não vou fazer. E como vou trabalhar com isso se não tiver condições? Então comecei a investir quase tudo que ganhava“, conta.
